sábado, 31 de dezembro de 2011

Desejo

Desejo para 2012 pessoas melhores, que saibam discernir o bem do mal e, sabendo, optem pelo primeiro. Desejo crianças mais pacientes e pais mais firmes, homens mais tolerantes com a ingenuidade alheia e intolerantes com a corrupção e a injustiça. Desejo jovens que possam ver que a alegria está no espírito de cada um e não em um copo de bebida.
Desejo pessoas sendo tratadas como seres humanos - sendo olhadas nos olhos - e não como estatísticas ou números. Desejo, com urgência, corações expostos, sem medo de dizer a verdade e de sentir. Sim, desejo que reaprendamos a sentir e a dizer o que sentimos, o que sonhamos, o que queremos, sem medo. Quero pessoas dizendo eu te amo e isso sendo a mais pura verdade e não uma frase de efeito. Desejo o fim da falsidade, da hipocrisia, da violência. Anseio pelo reinado do diálogo, do carinho, da compreensão, da liberdade.
E falo da liberdade digna, que não seja a propalada pela mediocridade. Desejo políticos preocupados com pessoas, mas se não estiverem, desejo pessoas preocupadas em substituí-los. Desejo que a palavra dada seja cumprida e o erro perverso, sanado e punido. Quero, em 2012, o empenho pela felicidade sendo prioridade de um caminho construído por todos. Desejo que as pessoas agressivas recebam o afeto que necessitam, que acarinhadas aprendam a amar sem provocar dor e que, sabendo amar, iluminem um mundo cordial, onde a guerra esteja apenas em um livro na estante. Desejo que as pessoas pensem mais mesmo que isso lhe custe um sorriso. Desejo que elas parem de correr, pois nada há que justifique a pressa insana. Que apreciem o sol, o mar, a chuva, o céu, as estrelas, uma criança brincando, antes que seus olhos não possam ver mais nada.
Desejo que as pessoas redescubram os valores certos, que trazem paz e segurança, para que não se magoem mais umas às outras. Desejo o perdão a quem quer reviver sem culpa, desejo calor humano a quem sofre e a quem luta. Desejo que as súplicas de amor sejam ouvidas, que a solidão seja só um descanso e que a vida possa ser usufruída com responsabilidade e, assim sendo, respeitada acima de tudo. Desejo força a quem não tem, voz para os oprimidos e bons, silêncio aos malfeitores. Desejo uma janela a quem não pode mais ser visto.
Por fim, desejo que todas as pessoas do mundo tenham hoje algo a comemorar, porque a desesperança é túmulo da alma. E que, tendo algo a comemorar, tenham com o que comemorar para que a fome não retire do olhar o sopro da existência que nos faz flutuar.
Que venha um 2012 justo e com ele pessoas renovadas na arte de amar!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O caminho de uma nova geração

Eu faço parte da geração perdida, jovens que ficaram sem causas para lutar depois que seus pais levantaram todas as bandeiras das ideologias. Herdamos um mero retrato na parede. Pouca coisa mudou.
Na história mais recente, os jovens abandonaram grande parte dessas ideologias e a política, descrentes de tudo e de todos. Mas na esteira desse ceticismo, incrivelmente a atual geração encontrou um caminho talvez muito mais produtivo para contribuir com as mudanças que o mundo precisa: o protagonismo.
Os jovens deixaram de esperar pelas lideranças. Acreditam que podem fazer mais com aquilo que sabem e está ao seu alcance. Não deixaram de sonhar, mas esperam bem mais do que uma canção para os animar. Estão agindo, silenciosamente, e construindo uma nova forma de ser e pensar as responsabilidades. São jovens que adotaram novos valores, muito mais humanos, de convivência com os outros, apesar de todas as ausências de perspectivas que os cercam. São jovens que se importam com aquilo que está ao seu lado e nos ensinam que as verdadeiras revoluções começam dentro de nós.
A campanha Agir Sem Fronteiras é feita por jovens universitários, uma delas de Cerro Largo, que se identificam com um olhar solidário capaz de transformar realidades. Se todos pudessem doar sua força de vontade, coragem e profissionalismo a quem foi segregado das chances da vida o mundo de fato poderia evoluir sem os traumas da guerra. Pudéssemos todos rever nossos preconceitos, acessar nossa tolerância, abrir portas com um pequeno gesto cotidiano de carinho, alcançaríamos enfim a sustentabilidade que é a ânsia do mundo: a disseminação do amor.

Quer fazer seu gesto, conheça aqui a campanha e como ajudar! 

sábado, 15 de outubro de 2011

Professor, sopro de inspiração


Ser professor não é para qualquer um. É muito difícil ensinar e não é por conta de carga horária elevada, baixos salários, condições de trabalho precárias, embora todas essas coisas ajudem a tornar bem mais penosa a tarefa de educar. É porque ensinar a aprender exige o dom amoroso da entrega, da persistência, da paciência. É mostrar que a gente só consegue aprender se acessar um sentimento profundo de envolvimento por aquilo que queremos realmente conhecer.
Ensinar não é só repassar a técnica, assim como aprender não é apenas assimilá-la repetindo procedimentos. Ensinar é iluminar o caminho para que o aluno possa criar além de tudo isso. E para criar não basta apenas ter técnica, é preciso alocar o coração com toda a força e inspiração que isso envolve, uma inteligência extra que extrapola o que está nos livros. Entusiasmar a ponto de fazer o aluno colocar sua emoção na busca pelo conhecimento é também o que faz o bom professor. Desejamos, descobrimos e evoluimos porque alguém nos inspirou. Neste video pode-se perceber essas questões sem a necessidade de palavras. Uma justa homenagem a quem lida com letras, números, ideias e com os sentimentos mais mágicos e poderosos do ser humano.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Conflitos de se amar um país como o Brasil

Insiste em preponderar em grande parte dos corações brasileiros sentimentos contraditórios quando são chamados a declarar seu amor pela Pátria. Num país como o Brasil, repleto de corrupções, violências, falta de zelo e cidadania, a hora cívica é um momento conturbado para quem está para lá de Bagdá com tanto descaso.
Pois digo que não deveria ser assim. Infelizmente confundimos o país que temos com aquele que queremos e nos esforçamos todos os dias para fazer crescer. Só podemos nos orgulhar de sermos brasileiros estando cientes que temos maravilhas a cultivar. E temos mesmo, somos com frequência destaques no exterior, tanto no esporte quanto na criatividade tecnológica, nos avanços econômicos que aos trancos e barrancos efetivamente se consolidam e na forma afetosa como nos relacionamos com todos os povos. Falta muito, é verdade, mas o mar não é de rosas para nenhum país no mundo.
As coisas boas, porém, não nos esforçamos para lembrar aos nossos jovens. Tenho visto poucas manifestações de amor pela Pátria nos desfiles cívicos. Os protestos preponderam. Se forem formas de expressar que queremos um futuro melhor, ainda vá, mas muitas vezes parece mera desilusão. O problema é fazer com que as crianças vejam simplesmente este lado e cultivem um certo desconforto por empunhar uma bandeira brasileira. Aliás, onde estão os cartazes e bandeiras verde-amarelos com frases para a autoestima nacional? Cada vez mais raros.
Cadê o incentivo às bandas dos colégios, hoje praticamente extintas? Lembro com saudade do meu tempo de banda, que muito me ensinou sobre ritmo, senso musical, harmonia. Nunca associei banda com militarismo ou ditaduras como gostam de apontar alguns neuróticos da educação libertária. Banda ensina música, que, aliás, os colégios já estão sendo obrigados a assumir em seus currículos.  Eu sinto saudade nas horas cívicas daqueles poemas bem escrachados de amor por essa terrinha tão machucada, das crianças com bandeirinhas  do verde das matas cantando Eu Te Amo, Meu Brasil sem nenhuma conotação pejorativa por trás ( por que diabos sempre tem de haver uma?). Amor que não tem nada a ver com política, mas com essa gente trabalhadora que nos orgulha todos os dias. Somos - que pena! - tão abatidos com nossa história,  desmotivados das nossas conquistas.
Por que não podemos vibrar com esse país tão cheio de belezas ao menos uma vez por ano? Temos outros 364 dias para discutir e resolver nossos sérios problemas que nunca deveriam aplacar nosso amor pela Pátria, a Pátria que nos concede nossa identidade. Seria bom se nas salas de aula e nas salas de estar pudéssemos ouvir, além das críticas e da conscientização sobre nossos problemas, um pouco de saudável ufanismo por todas as nossas riquezas, valores e capacidade. Que tenhamos o direito de sermos estimulados a externar nossas felicidades nacionais sem vergonha ou medo, porque é essa força que vai garantir estar sempre acesa a chama da mudança nos corações jovens. Só amando verdadeiramente nosso país poderemos melhorá-lo.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Seja apaixonado!

Adoro gente apaixonada. A paixão saudável, claro, não o terrorismo emocional. Quem curte muito o que faz contagia os outros e não se pode fazer nada a não ser jogar a  toalha. Entrego-me a quem é assim. Toda vez, não tem jeito.
Por exemplo, quem tem paixão pelo trabalho faz todo o mundo notar, não precisa apresentar o caso. O entusiasmo garante que quem estiver por perto fique logo sabendo. Às vezes dá uma inveja porque parece que ali não reside problemas, é tudo festa. Mas existem problemas sim, só que a pessoa apaixonada acredita que tudo valerá a pena no fim...e não é que tudo compensa mesmo? Claro, pois as pedras no caminho são só um percalço que desaparecerá assim que o resultado final for alcançado. E os apaixonados sempre alcançam o que querem porque não desistem nunca de ser felizes. Se não dá de um jeito, muda-se o roteiro e pronto! Dê-lhe paixão para outra direção, mas sempre fazendo o que se gosta. Para que dinheiro se eu só quero amar? já perguntava o incrível Tim Maia em uma de suas músicas mais famosas.
Adoro gente apaixonada. É aquela alegria e disposição que lhes consome todas as forças ao mesmo tempo que as regenera. Veja-se a relação dos homens com o futebol. Mesmo a mais fanática das torcedoras é incapaz de reproduzir a paixão que os move quando o assunto é bola na rede. Enquanto as mulheres simplesmente vibram, os homens remexem as entranhas. Porque é assim: paixão só é paixão de verdade se for visceral. Por isso, até posso me incomodar quando os gritos são efusivos demais e as manifestações se alastram pela madrugada , mas se forem frutos da paixão saudável pelo esporte...eu entendo.
E o que dizer das mulheres e sua paixão incondicional pelas criaturas que colocam no mundo? Não há nada capaz de se interpor entre uma mãe e um filho. O pai até que tenta, mas sabe lá no fundo que não fará fervilhar seu vínculo afetivo do mesmo modo que a leoa mãe. Porque só lá, enraizado no ser materno, é que o arrebatador sentimento reside com doçura ao mesmo tempo em que está apto a transformar-se em um tsunami quando menos se espera. Desculpem-me quem nunca saiu do sério para agarrar algo apaixonadamente. Desculpem-me os técnicos competentes por detrás de suas mesas. Desculpem-me aqueles que batem ponto apenas esperando o salário chegar. Perdoem-me. Verdadeiramente não tenho nada contra nenhum de vocês, às vezes é grande mesmo a vontade de sucumbir ao marasmo. Desculpem-me todos, mas gente apaixonada é uma benção para a vida e para o mundo. Elas são melhores porque fazem as coisas vibrarem. A paixão nunca deixa ninguém esmorecer, o máximo que ela permite é um pit stop rápido para o coração aquiescer.
Não queria terminar com um chavão tão comum, porém quem resiste... A vida é muito curta para não sermos apaixonados. Sejamos logo antes que o tempo passe tão depressa que não nos dê nem tempo de sorrir. Recebemos apenas um sopro para voar com o qual precisamos plainar por toda nossa existência. Com certeza essa experiência merece o ardor que a torne inesquecível.
   

sábado, 30 de julho de 2011

Amy, a personagem

Se você é do tipo que não se escandaliza mais com nada, nem precisa ler adiante. Este post é sobre a Amy Winehouse, que morreu vítima das drogas, em uma escalada crescente de degeneração física e emocional. Igual a tantas outras jovens? Pode ser, porém quem tem sensibilidade é bom que reflita. Chamou-me a atenção esta jovem não só por ser dona de uma voz incomparável, mas pelo apreço que recebeu entre os jovens de sua geração, copiadores do seu estilo de vestir e se arrumar.
Será que Amy era mesmo a garota que seguiu os passos de ídolos da juventude de outras épocas, como Janis Joplin e Kurt Cobain, que também deixaram cedo os palcos tragados pelas drogas? Sim, ela também sucumbiu, no entanto há uma diferença bastante acentuada entre esta jovem e toda aquela turma dos anos 70. Amy não parece ter usado drogas para amplificar seu talento, para romper padrões, expor rebeldia ou compor letras mais piradas como foi a tônica da geração hippie. De frágil estrutura emocional, cedo foi turbinada para o sucesso e como apoio teve companheiros que a incentivaram à decadência. Ela teve realmente pouca ou nenhuma escolha. Preferível então compará-la a Michael Jackson, que mesmo muito mais velho, também terminou soterrado pela fama, massacrado pela mídia, sem poder repousar. No final, viu-se dormindo para sempre em uma overdose de anestésicos.
O que eles tinham verdadeiramente em comum, além do talento, é que ao seu lado não havia ninguém para dizer chega! Deveria ser absurdo a nós perceber estarmos em uma sociedade que aplaude a drogadição e que já excedeu o seu limite de perversidade,  sacrificando seus jovens escancaradamente, sem remorsos. Mas não, não é absurdo, tudo existe dentro de uma lógica doida, é muito lindo se chapar e se não lembrar de nada no outro dia a risada vai ser muito mais gostosa. É divertido correr riscos, it's so cool. Talvez já tenhamos vivido demais e estejamos de ressaca de sobrevivência. Quando será que o mundo vai acabar mesmo? Houve quem colocasse garrafas de bebida alcóolica em homenagem à Amy, incrível não?Deveriam ter quebrado garrafas, queimado suas baganas e seringas em uma grande fogueira simbólica. Mas não. A revolta e a tomada de atitude não existe mais em uma sociedade inconsciente de tão entorpecida por valores equivocados.
Todos nós estamos ébrios, de cara cheia de individualismo. Amy morreu e sua morte não significa nada. Ela era uma personagem e cumpriu o papel que todos esperavam. Quem quer saber se existia humanidade nela? Pois digo que deveriam querer saber. Muitas outras Amys ainda estão por aí, talvez não tão talentosas, o que as tornam alvos ainda mais fáceis da nossa indiferença.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Liberalidade perigosa


Lá vai o Brasil novamente para o lado contrário do bom senso. Ao invés de investir em novos presídios e em educação profissional para a massa carcerária, opta por libertar quem comete pequenos crimes ou pior - passa a aplicar penas alternativas que francamente são uma piada.
Você pode roubar, portar arma ilegal, fazer receptação, que mesmo assim farão de tudo para que você fique livre. A incoerência está ficando mesmo temerária. Os cidadãos tem de arcar cada vez mais com o convívio de deliquentes na rua para que o Estado e o Judiciário sintam-se aliviados de suas responsabilidades. Solução tão fácil quanto varrer a sujeira para baixo do tapete. Só que um dia todo esse lixo vai aparecer e talvez seja tarde demais para muitos de nós, cidadãos de bem.
Nosso país nunca investiu verdadeiramente em sistema prisional. Sempre entendeu as prisões como depósito de gente quando deveriam ser locais de recuperação para a volta produtiva e saudável dessas pessoas à sociedade. Quem comete pequenos delitos frequentemente tem um histórico de abandono, miséria ou má influência, pouca educação formal ou muita mas sem exemplo de valores morais. Só que ingressar no mundo da marginalidade é como adendrar o universo das drogas. Você testa e se nada lhe acontece você segue adiante. A ausência de limites cedo impulsiona o indivíduo a praticar atos mais graves assim como a experimentar drogas mais pesadas. Esse é um princípio básico da educação, qualquer bom pai sabe disso.
Mas o governo não. Quer mais é livrar o seu lado, como se fosse escapar impunemente adiante. Só que sinto muito: com a nova e liberal legislação, só quem vai se escapar são os criminosos. A teoria de que coibir os pequenos ilícitos previne os mais graves já foi testada com êxito em muitos países asiáticos. A criminalidade é baixíssima no Japão e nas Coréias, por exemplo, onde se passam anos sem que nenhum furto ou roubo se registre porque lá jogar papel de bala na rua dá uma encrenca braba. E o Brasil faz justamente o oposto. Deixa correr frouxo as infrações leves para ter de punir só quando transformarem-se em graves e cruéis. Ao invés de desafogar o sistema prisional, o governo está é projetando sua superlotação adiante. Que custo para a sociedade, para as vítimas de todos esses crimes hediondos, para os pais que ficam sem seus filhos, para os cidadãos que vem os recursos públicos escoando para os bolsos de corruptos!
Já era demais aguentarmos a tal da lei de progressão de regime, possibilitando a fuga sem fim de conhecidos marginais irrecuperáveis. Agora isso, o prende-e-solta vai virar o solta-de-uma-vez camuflado com o nome de medidas alternativas à prisão provisória: vamos esperar sentados o bandido apresentar-se espontâneamente à Justiça, deixar de ir à casa da mulher para espancá-la, de viajar para onde quiser só porque assim a lei está determinando. Quem vai fiscalizar isso? Por favor, não humilhem nossa inteligência! Somos humildes, não idiotas.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um brinde à incoerência!

Eu queria entender o que nossa sociedade quer fazer realmente em relação às drogas. Proibir ou incentivar? Aparentemente só traficantes deveriam ser a favor desse comércio nefasto que destrói nossos jovens em tenra idade. Infelizmente não é verdade. Basta olhar para a foto ao lado para percebermos que a droga é legalmente aceita e incentivada até entre crianças por empresas com propagada idoneidade. Mesmo sem álcool, a champanha das princesas e dos carros tem tudo das originais borbulhantes brindadas nos reveions e está nas prateleiras dos supermercados junto às bebidas de adultos que é para as crianças não duvidarem de sua autenticidade. Acostume seus filhos desde já com a ideia de que festa combina com bebida alcoólica e verá como cedo eles associarão a necessidade de ingerí-la à diversão.
Aí você pensa que quando a criançada entrar na adolescência estará mais protegida por ter aprendido na escola que drogas não são legais - fique longe delas! - mas na boate de sábado comprarão ingressos que darão direito a cerveja (grátis!), mesmo que eles sejam menores de idade. De que adianta todo o seu português contra esse tipo de estímulo? Somos constantemente assediados pela sedução da droga, um comportamento que choca-se com as campanhas de conscientização, com a orientação que nos esforçamos a dar, com as leis de restrição. Enquanto houver essa contradição, vamos combinar, é chover no molhado tentar educar.  
Nunca esse contraste ficou tão claro quanto agora, quando se discute a descriminalização da maconha. Se a droga for liberada, muitos fumantes do cigarro tradicional, atualmente acuados pela proibição de exercer seu vício em diversos locais públicos, vão trocar de bagana. Ou será que vão liberar para depois restringir, gastando milhões em campanhas de conscientização? Mas tem sempre alguém para lembrar que a descriminalização da droga é para acabar com o tráfico. Isso seria realmente um benefício se tal intento se concretizasse. Se permitir a venda de drogas terminasse com o negócio dos traficantes não veríamos todos os dias o contrabando de cigarros, produto legalmente aceito, invadindo as nossas fronteiras. Para o crime organizado, nem chega a haver uma mudança, é só seguir o baile.
Então, vamos deixar de ser hipócritas! Ninguém pode impedir pais de beberem ou fumarem diante de seus filhos dentro de seus lares, dando o solene exemplo da displicência e, por que não dizer, da idiotice. Agora podemos sim, a despeito do capitalismo, viver melhor e mais saudáveis se nos livrarmos da incoerência no âmbito social. É impossível contermos as drogas se continuarmos a incentivar o seu consumo nas entrelinhas e também ostensivamente em festas e eventos públicos. É extremamente confuso para crianças e jovens ver o circo armado sem entender se é para divertirem-se nele ou não.

domingo, 12 de junho de 2011

Casa de Cultura: de quem é a incompetência

Um projeto de cedência da Casa de Cultura para o Lions Clube gerou um debate na Câmara de Vereadores que acabou, como não é incomum por aqui, em politicagem. Da mais grosseira. Como não podia acusar a atual administração do município pelo abandono do local, já que integra a bancada da situação no legislativo, o vereador Altevir Medeiros conseguiu a proeza de culpar a secretária de turismo do governo anterior, que deixou o cargo em 2004, e cujo trabalho tornou possível a construção desse patrimônio público.
Lá se vão sete anos e ao que parece os representantes do atual governo e o distinto vereador nunca haviam pisado na Casa de Cultura. Nunca foram às várias exposições culturais que lá aconteceram durante os eventos do município no parque de exposições. Essa é a única explicação para jamais terem percebido como o "projeto era de má qualidade", como agora constatou o vereador, ou que o imóvel estava deteriorado, o que não é de estranhar depois de quase uma década sem investimento público! Ao ceder o imóvel para entidades sociais nada mais faz o governo do que assinar o atestado de incompetência em cuidar do patrimônio pelo qual deveria ser responsável.
Estranho é que reformas vultuosas foram feitas no parque de exposições no último ano e nem um olhar foi dado à Casa de Cultura, por que será? Teria a ver com o fato da obra ser mérito de outro governo? Ao invés de acusar e difamar quem trouxe benesses para o município, deveria o vereador sentir vergonha e calar-se diante da inoperância e do descaso que tem o governo que defende com o patrimônio público. A Casa de Cultura é só mais um na lista dos projetos que ficaram ao léu. O quiosque de produtos coloniais continua às moscas e o prédio, que já precisou de reparos sem nunca ter servido à comunidade, virou um monumento ao desperdício de dinheiro público. Tudo indica que o Centro de Feirantes caminhe para o mesmo destino. Há um ano que o prédio está "em acabamentos finais" e nada de inauguração. Se bem que os feirantes esperam que isso nunca aconteça pois abominam a ideia de sair do centro da cidade e perder sua clientela. Se tivessem sido ouvidos previamente sobre o projeto talvez o dinheiro público fosse melhor aproveitado.
Então, é preciso pensarmos, de quem é a incompetência no trato com o patrimônio público? De quem trabalha para trazer novos projetos à comunidade ou de quem terceiriza responsabilidades e cobra outros por aquilo que é seu dever fazer? Quando a sociedade terá uma explicação sobre tudo isso? Cabe ao bom administrador dar uma satisfação adequada a esses questionamentos que angustiam o cidadão pois há tão longo tempo nada se sabe porque tais obras continuam sem o uso devido. Cabe ao bom vereador cobrar essa explicação, ou o partidarismo fala mais alto do que o interesse da comunidade?

terça-feira, 24 de maio de 2011

A língua esfarrapada

O MEC tenta se defender, mas o que está escrito não pode ser mudado. No polêmico livro didático Por Uma Vida Melhor se lança luz a um perigoso estratagema de inclusão que só deixa quem pouco sabe da língua portuguesa ainda mais distante da ascensão social. O texto diz explicitamente que não existe apenas uma forma correta de falar e escrever. Segundo a autora da obra, tudo é correto. 
Pergunto: temos ou não uma língua padrão que nos une como nação? Essa discussão de que existe diversas variações da mesma língua e todas podem ser consideradas corretas já vem de décadas nas universidades. Quando eu fiz Letras na UFRGS em 1997 imaginei o que seria se tais ideias virassem moda. Não é que pegou? E foram radicais nisso, mas o momento é propício pois casa com a visão política que detém o poder no país. Estão baixando o nível da educação para que todos sejam incluídos - às avessas - que tragédia! A educação precisa ser de tal forma que todos possam aprender a norma culta da língua para ter o melhor desempenho social e profissional possível. Legitimar a ignorância é mais triste que ridicularizá-la ou desconsiderá-la. Quem fala "nós pega" pode aprender a conjugar certo esse verbo, basta ter acesso a uma escola básica. Já o livro do MEC insiste que "nós pega" pode ser considerado correto tanto na fala quanto na escrita. É o fim. Vamos fechar as escolas, pois se tudo pode ser correto para que ensinar alguma coisa? Todos estão certos e que falem e escrevam como quiserem. E cuidado, não reclamem: se o individuo achar que foi vítima de preconceito linguistico, usando as palavras da autora do livro, pode muito bem lhe enquadrar em alguma lei. Pois o que considero preconceituoso é o texto do livro, que transforma o aprendizado da língua em uma luta de classes. Dessa forma, desconfio que incluir para o governo tenha o significado de rebaixar quem está em cima e não alçar quem está na base da pirâmide. Um belo movimento de mobilidade social ilusório que desqualifica ao invés de agregar valor.
O MEC foi mesmo infeliz na forma como abordou o estudo sobre as variantes linguísticas. Elas existem nos regionalismos, no falar popular, mas nunca poderemos concordar que sejam aceitas na escrita como formas corretas de expressão a não ser na literatura, que o faz com consciência buscando dar vida a personagens tipificados e suas realidades. No livro a autora escreve que a língua é um instrumento de poder - certo! - então por que negar esse poder a quem ainda está à margem dele?  Todo mundo sempre irá falar como achar melhor, como aprendeu em seu meio, mas o que essas pessoas tem o direito de saber é escrever e falar dentro das regras consideradas corretas pela norma culta da língua.  Esse aprendizado sim fará os cidadãos brasileiros mais aptos a vencer os desafios da vida e encontrar um caminho digno de subsistência com o domínio amplo dos conhecimentos que julgar necessários.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Um bom professor é tudo?

Iniciou ontem a série de reportagens do Jornal Nacional que visa diagnosticar a realidade das escolas municipais de todo o país e já ficou claro como vivemos mesmo uma contradição nesse setor. A escola visitada em Novo Hamburgo, com Ideb ideal, estava bem equipada, com professores qualificados e bem remunerados e tem pais presentes e parceiros, que apóiam efetivamente a instituição e o trabalho por ela desenvolvido.
Por outro lado, a outra escola avaliada, que tem o índice de desenvolvimento educacional baixo, apresentou características opostas, destaque para alunos com idades diversas na mesma sala de aula. Segundo a professora entrevistada, há dificuldade de alfabetização. Chamou-me a atenção dois itens que colaboram para que esse contraste se evidencie tanto. Por incrível que pareça nada tem a ver com a remuneração do professor, já que nas duas escolas o salário pago era praticamente o mesmo.  O que bem as distinguia efetivamente eram os recursos que o professor dispunha para ensinar e a infraestrura da instituição. Porém ouso dizer que nem esse fator a meu ver é decisivo. Já a qualificação do professor sim tem profundas influência sobre o aprendizado e modo como ele é implementado na sala de aula.  A professora da escola com melhor desempenho educacional tinha pós-graduação, o que certamente lhe dá vantagem nas práticas pedagógicas.
Um bom professor é tudo. De nada adianta altas tecnologias se ele não sabe utilizá-las como instrumentos educacionais. Da mesma forma de nada adianta altos salários se o professor é pouco criativo em sua performance, mantém-se desinformado da evolução do ensino e não é capaz de inovar e aprender constantemente.  É preciso que o conhecimento seja arrebatado com paixão e com paixão levado aos estudantes. É absolutamente necessário que o professor seja o condutor da educação, alguém com coragem e consciência de seu papel no mundo, no qual podemos nos inspirar e espelhar, um ser capaz de ultrapassar um cenário tão limitado com o das nossas atuais salas de aula.     

terça-feira, 10 de maio de 2011

Acabaram-se (de novo!) as ilusões

Eu apostava muito no Barack Obama. E quem não tinha suas ilusões no primeiro negro da história americana a assumir a presidência, com seu sorriso largo, com seu discurso conciliatório, que pregava a parceria entre os povos. Tanto que ganhou o Nobel da Paz, só concedido a figuras que primaram pelo diálogo e pelos acordos na luta pacifista, como Mahatma Gandhi. Obama ganhou o Nobel pela promessa do que viria a fazer pelo mundo e não pelo que fez, tanta era essa expectativa.
Infelizmente o Obama não foi diferente dos demais líderes imperialistas que os EUA já teve. Na luta contra o terrorismo optou por usar as mesmas táticas agressivas de seus rivais, ou seja, igualou-se a eles. Usou a tortura para obter informações e ordenou a eliminação de Bin Laden quando, apesar de seus crimes, deveria ter sido julgado e então condenado, como aconteceu com os carrascos alemães da Segunda Guerra. Em suma, pôs em risco a imagem do Estado democrático como entidade capaz de resolver os problemas dos cidadãos.
Por mais raiva que tenhamos do vil fanatismo dos terroristas, não é a vingança nos mesmos termos empregados pelo Obama que ajudará o mundo a encontrar a paz. Pelo contrário, o que virá será mais violência e as mortes seguintes serão culpa de quem?
Eu não sei se existe uma forma mais eficiente de se lidar com o terrorismo. Só sei que para não perdermos nossa humanidade é bastante sensato que encontremos um caminho mais justo e civilizado - ou o mundo continuará a banhar-se de sangue numa guerra insana onde certamente não haverá vencedores. Nunca houve, aliás, nessa Terra desigual, verdadeiros vencedores entre aqueles que se utilizaram da força para triunfar. Quem usa a violência desistiu da inteligência. Não é o que se espera de um líder. Um líder deve dar um exemplo capaz de nos orgulhar. O Obama jogou seu prêmio nas águas do oceano. Nos deixa de lição apenas a desesperança e o medo de novos ataques. Nada mudou.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Com a palavra, os pássaros!

 Ricardo Busse
Considerei muita coincidência receber dois emails falando sobre pássaros em um mesmo dia e resolvi postar. Na primeira imagem, encaminhada pelo Ricardo Busse, que tem uma das visões mais privilegiadas da cidade, retrata-se a bonita migração das andorinhas que escolheram uma das antenas parabólicas do centro da cidade para um pouso estratégico. As aves nos dizem que a jornada é longa, mas para quem persiste e está habilitado o horizonte é logo ali.
A segunda imagem é a pura ironia da vida, mas a cidadã que me enviou garante que os pássaros também são politizados. Pois aí estão os urubus pleiteando a abertura do quiosque na Br-392, que nem foi ocupado e já precisou de reformas. Mas na verdade a passarada não tá nem aí, o lugar é sossegado para uma reunião de condomínio, ótimo para uma espichada de asa ou para fazer uma boquinha. Quem diz que é mau agouro não sabe o que é maledicência...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Titanic: que história!

Passaporte de Embarque
O naufrágio do Titanic é uma daquelas histórias que quanto mais você conhece mais você se apaixona. Estive na exposição em Porto Alegre que apresenta peças recolhidas do transatlântico a partir de 1985, quando os destroços do navio, que afundou em abril de 1912, foram encontradas a 4 mil metros de profundidade.
É uma experiência única sentir a recriação do clima e do ambiente de época e das condições do navio da White Star Lines. Saí impressionada, pois é difícil não sensibilizar-se com as histórias daquelas pessoas cujos destinos foram marcados para sempre. A maioria delas sofreu o desespero de não ter opção de salvamento, dado que o número de botes era insuficiente. Outras certamente tiveram a alma dilacerada justamente por estarem à salvo mas precisarem presenciar a morte de mais de mil pessoas, entre elas familiares próximos. Detalhe: mais 300 pessoas além das 700 resgatadas poderiam ter sido salvas se toda a capacidade dos botes tivesse sido utilizada, atitude racional certamente impedida pelo pânico do momento do desastre.
20 casais em lua-de-mel viajavam no Titanic, entre eles os espanhóis Victor Penasco y Castellana e Maria Josefa de Soto e Vallejo. Eles estavam em Paris quando decidiram atravessar o oceano em uma aventura romântica. Para enganar a mãe de Victor, que era contra a viagem, o casal deixou seu mordomo em Paris, instruindo-o a enviar vários cartões postais já escritos para a Espanha enquanto eles estivessem viajando. Eles embarcaram na cabine 65 do navio, na primeira classe, mas só Maria, que tinha 17 anos, sobreviveu.
Histórias assim permeiam a exposição, maravilhosas e tristes. Pertences dos passageiros, inclusive cartas protegidas por carteiras e malas de couro que as impermeabilizaram durante o século em que ficaram submersas, são uma parte valiosa da exposição. Assim como frascos de perfumes cujas essências ainda podem ser percebidas. Simplesmente impressionante os pisos resgatados dos salões e a louça com detalhes em ouro que expõe a riqueza dos magnatas da época em contraste com o ambiente perverso das caldeiras, onde trabalhadores lançavam carvão 24h nas fornalhas em uma temperatura em torno dos 40 graus. Praticamente todos morreram.
Irresponsável a atitude do comandante, que apesar dos vários avisos de icebergs que lhe chegaram horas antes do acidente decidiu manter o navio a todo vapor, como atestou um dos equipamentos encontrados no fundo do mar, que marcava no momento da tragédia "velocidade máxima adiante".
Na experiência sensorial que é visitar essa exposição é possível ouvir a reprodução do barulho das máquinas nas cabines de terceira classe, onde morreu a maior parte das pessoas, que não encontraram facilidades para subir ao convés na hora do acidente. É possível tocar em um iceberg e perceber a temperatura em que a água do oceano se encontrava naquela noite. É um frio que primeiro provoca dor e depois faz adormecer os músculos. Descobre-se então que a maioria das pessoas não morreu afogada, mas de hipotermia, absolutamente congelada.
Há farto material sobre a incrível história do Titanic na web. Seguem dois links - um oficial da exposição
onde podem ser encontradas mais histórias fantásticas através de relatos dos sobreviventes, e outro com um video que mostra como está hoje o navio no fundo do oceano.

Exposição 

Expedição 2010 

terça-feira, 19 de abril de 2011

Prisões no ócio

Todo ser humano precisa trabalhar para ter dignidade. Sentir-se útil é, antes de mais nada, dar sentido à própria vida. Por ferir um princípio tão básico de nossa existência é que é incompreensível que presos não trabalhem no Brasil. Nesse caso, além de resgatar a dignidade, o trabalho torna-se a única forma de recuperação e reinserção à sociedade desses indíviduos quando isso é possível.
Exemplos não faltam. O presídio de Taquara foi considerado modelo no Rio Grande do Sul por ter uma infra-estrutura carcerária mínima e, principalmente, por dar condições de produtividade a seus detentos. Desde que começaram a fabricar chaveiros para uma empresa, não houve mais tentativas de fuga por lá. Então é de se imaginar os motivos que levam o Estado a deixar no ócio outros milhares de apenados quando é tão caro mantê-los. Trancados em uma cela o dia inteiro obviamente que só podem pensar em dar continuidade a seus crimes ou planejar rotas de fuga. Sabem que mesmo se cumprirem sua pena de forma correta serão segregados pela sociedade. Quem lhes dará um emprego quando sairem da prisão?
Por outro lado, presos que têm a chance de serem produtivos não apenas recebem a possibilidade de aprendem a dar valor ao trabalho como recuperam a esperança de encontrar um lugar ao sol assim que deixarem as penitenciárias. Também desoneram a sociedade do ônus de custear-lhe a estadia nas prisões e a manutenção de suas famílias que ficaram desprotegidas, causa de revolta para muitos cidadãos.
Mais do que qualquer outra pessoa, os presos necessitam trabalhar, pois é através de uma atividade produtiva que podem tornar-se efetivamente cidadãos. Sem isso, nossas prisões vão continuar sendo depósitos de gente sendo preparadas para a clandestinidade. Quem de lá sair, mesmo com boas intenções, será visto com temor e desconfiança pela sociedade e tem grandes probabiblidades de para lá retornar. Hoje o índice de reincidência ao crime no Brasil é de 70%, um dos mais altos do mundo. Prova do fracasso de nosso modelo prisional.

domingo, 10 de abril de 2011

Somos xenófobos?

Amiúde se interpõe em nossa vida comunitária, de forma constrangedora, o preconceito contra os estrangeiros. Leia-se estrangeiro todo aquele não nascido em nosso município, mesmo que o tenha adotado como terra natal. A todo momento, há evidências dessa xenofobia que agora começa a tornar-se um problema social na medida em que observamos gente de fora chegando para estudar na nova universidade. Anteriormente o preconceito citadino voltou-se contra os trabalhadores da Usina São José, grande parte nordestinos e da raça negra. Esses, que já partiram com o término da obra, sentiram na pele a exclusão social a que foram submetidos em festas populares e eventos afins. Tiveram de inventar sua própria diversão. Também foram alvos de desconfiança, quando a comunidade deixou transparecer seu receio diante de um suposto aumento do número de roubos e assaltos. Um medo infundado, pelo que se viu depois. Quem assaltou efetivamente era gente daqui mesmo, como dizem, os mesmos de sempre.
Mas eu mesma, vejam só, nascida descendente de pioneiros que fundaram este município, já fui vítima de xenofobia por ter estudado fora em uma época em que nem havia curso superior por aqui. É como se ter saído do reduto, seja por qualquer motivo, fosse um crime inafiançável. O mais triste é ver tal atitude partir de lideranças sociais, que deveriam dar o exemplo em termos de tolerância e respeito.
Será isso reflexo do baixo nível cultural ao qual chegamos após décadas de pobreza e abandono por parte dos governos federal e estadual? Ou como reduto de alemães herdamos uma repulsa a quem não pertence a essa descendência de imigrantes que desenvolveu esse chão? Em parte acredito que há ingredientes desses dois fatores nessa explicação. Certamente o atraso intelectual somado a uma paralisia econômica que deixou o município imutável por décadas, sempre dominado por uma mesma elite, está na base dessa intolerância que torna-se gritante agora que o município expressa um arroubo de desenvolvimento com os novos empreendimentos.
Parece-me claro ainda que a xenofobia, incrustada muito fortemente nessa elite, aflora em momentos de disputa por poder, servindo, portanto, a propósitos políticos com a finalidade de desacreditar ou desqualificar quem vem de fora perante a comunidade. Dentro dessa mentalidade, que tenta perpetuar-se a todo o custo para que não haja mudanças no status quo, pertencer geneticamente a esta terra tem mais importância do que ter formação educacional ou ser um agente/cidadão competente dentro da comunidade.
Não é possível que aceitemos essa discriminação como argumento sério em qualquer tipo de debate. É preciso expurgá-la o mais depressa possível de nosso meio sob pena de permanecermos estagnados em nosso desenvolvimento, arraigados nas mesmas premissas e prerrogativas que impedem o usufruto da diversidade na resolução de nossos problemas, principalmente aqueles perpetuados pela falta de ação dessas mesmas elites preconceituosas.
Sim, somos xenófobos, mas o momento é apropriado para mudar essa mentalidade. A chegada de novos forasteiros a cada ano para estudar - rezemos para que esse número cresça rapidamente - significa que o sentimento de exclusão sofrido por estes será o estopim que deflagrará uma reação mais forte a esse comportamento tão nocivo a maior parte da comunidade. Precisamos estar atentos para apoiar este movimento que poderá nos libertar desse aspecto obscuro e indigesto de nossa personalidade social.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Promessas não cumpridas

Eu não culpo os jovens que detestam a política porque é difícil ter estômago para aguentar as artimanhas do poder e a cara-de-pau daqueles políticos que mentem sem nenhuma vergonha apenas visando votos. Prometer e não cumprir é o mesmo que debochar do povo. Esses se fiam no fato de que as pessoas não têm memória e portanto são estúpidas o suficiente para serem enganadas quantas vezes for necessário. 
Tenho para mim que essa corja tem razão. As pessoas não cobram as promessas que ouviram e ainda, muitas vezes, reelegem os devoradores do dinheiro público em troca de favores mesquinhos. O individualismo, aliás, explica muita coisa em nossa moderna sociedade. Que saudade das ideologias, que já morreram todas sem que nossos filhos pudessem usufrui-las. Ficaram nos livros de História para alguém recordar algum dia. Dentro dos partidos políticos, não existe mais a luta por uma causa, mas somente pela causa pessoal. Confesso que hoje voto na pessoa, como dizem, porque sinto uma leve esperança de que esta, tendo alguns valores compatíveis com os meus, possa a vir a fazer um bom trabalho. Não é o que todos pensam? Concluem isso diante da falência dos partidos. Nossas três maiores agremiações perderam-se no autoritarismo, no fisiologismo e no discurso doutrinário que, apesar de intitulado "democrático", não respeita a diversidade de opiniões.
É difícil para os jovens, diante disso, terem em mente novos tempos. Mas em todos os lugares do mundo todos os dias há provas de que as pessoas podem mudar sua realidade se assim quiserem. Se a política move a história, são os jovens que mudam o modo como se faz política. É preciso que eles imprimam a sua marca nesse tempo que já é futuro para que possamos voltar a sonhar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Pague para plantar, reze para colher

Ontem escutei o lamento de um produtor rural em rede nacional que sintetiza bem as dificuldades que vive o Brasil para avançar em seu desenvolvimento. "A gente tem de rezar para que chova no plantio e para que pare de chover na colheita".
A frase singela revela duas situações dramáticas para quem trabalha no campo. A primeira delas é a dependência astronômica que os agricultores possuem das condições climáticas ideais, já que lhes falta tecnologia, conhecimento dos manejos do solo e, claro, recursos financeiros. Se vier estiagem ou mangas d'água, adeus, a única saída é o banco ou a anistia do governo. A segunda situação aparece na hora da colheita. Se chover não é possível colher e corre-se o risco de perder a qualidade do grão. Mas mesmo que se consiga esse feito, o que fazer com uma vasta produção se as estradas não tem trafegabilidade?
São lastimáveis as condições de nossas estradas. Ñem vamos falar em asfaltos esburacados nas rodovias, que atrasam em horas e horas a entrega das remessas. Pensem nas pequenas propriedades nas cidades pequenas onde a terra de chão ainda é o único acesso.  Em dias de chuva, nem adianta tentar sair por uma delas. São estradas que necessitam de patrolamento e encascalhamento constantes.
Diante da imobilidade característica das autoridades brasileiras - ao contrário das japonesas que exigem o conserto de uma autoestrada em seis dias após um terremoto - imaginemos o sofrimento de quem vive da terra. Anos se passam e a história não muda. O Brasil errou enormemente ao ceder à ganância das empreiteiras que queriam fazer estradas. Desde os anos 50, a matriz de desenvolvimento do país assentou-se nas rodovias e abandonou o transporte ferroviário, um dos mais baratos e rápidos, principalmente para o escoamento de grandes safras. Agora o que podemos ver é a imensa fila dos caminhoneiros de grãos pelos principais portos do país esperando um lugar ao sol para descarregar. Nosso país precisa mesmo de muitos investimentos, especialmente de bom senso.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Água para todos

Estranho que repentinamente alguns municípios gaúchos levantem a lebre a favor da privatização da água. Alegam que querem ser independentes na escolha de seus parceiros, que a Corsan não tem efetuado serviços de qualidade em suas cidades. Posicionamento intrigante porque a Corsan sempre foi considerada uma empresa para lá de eficiente. Não posso imaginar que subitamente seu atendimento esteja tão ruim em alguns lugares enquanto alcança níveis de excelência em outros.
Desconfiem. Por trás da reclamação, avultam-se interesses econômicos que querem cobrar bem pela água que consumimos. Privatizar a água, um bem público e universal, é um crime. A água é de todos e dela precisamos para sobreviver. Entregá-la em boas condições de consumo é dever do Estado e para isso pagamos nossos impostos. Podemos reivindicar melhores serviços, mas não desistir de nosso patrimônio.
Para mim toda essa barulheira cheira a corrupção. Como aconteceu com o caso das lombadas eletrônicas, que viraram negociatas entre empresas e prefeituras, também a questão da privatização da água pode ter certos "aliados" entre muitos administradores públicos interessados em engrossar sua conta bancária. Quem duvida? 

sábado, 19 de março de 2011

Quem (a)pagará Fukushima?

Esta semana o jornal britânico The Times denunciou que a companhia distribuidora de energia elétrica japonesa Tokyo Electric Power Co (Tepco), responsável por gerir o complexo nuclear de Fukushima, no Japão, adulterou dados de segurança, tentou encobrir problemas da usina e omitiu informações relevantes ao governo. Um dos procedimentos de fraude adotados foi a injeção de ar dentro do recipiente de contenção do reator 1 de Fukushima para, artificialmente, "baixar a taxa de fuga do calor".
As linhas acima, do site Opera Mundi, prosseguem arrolando uma série de adulterações que fazem pensar. Leia mais em Opera Mundi. Unidas a outros documentos do Wikileaks, as denúncias são para deixar qualquer um de cabelo em pé. O Japão já havia sido advertido em 2009 que suas usinas não poderiam suportar grandes terremotos. Tem-se a plena certeza de que essa é uma tragédia anunciada dada a irresponsabilidade dessa empresa. Em uma terra de terremotos constantes, segurança deveria ser uma questão de ordem. Desde que foi construído o complexo de Fukushima, em 1967, o Japão já sofreu inúmeros abalos sísmicos de grande magnitude. Diante dessas denúncias, facilmente se deduz que outros vazamentos ocorreram ao longo das últimas décadas, mas foram escondidos da população e das autoridades. Faltou ética, rigor técnico e fiscalização. Em suma, faltou seriedade, inadmissível em um assunto tão grave em que milhares de vidas estavam jogo. Agora é tarde. Que os culpados sejam responsabilizados, pois este fato não pode ser considerado uma fatalidade.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Ares perigosos

A tragédia japonesa reacende o debate em torno do uso da energia nuclear. Muito embora acontecimentos como esse faça o mundo repensar sua matriz energética, dificlmente o homem poderá abrir mão desse tipo de energia, muito utilizada hoje na medicina e na produção de alimentos. Apesar de perigosa e em excesso fatal para os seres vivos, ainda tem impacto ambiental menos danoso que outras fontes de energia, como a produzida pelas usinas hidrelétricas.
Mas não quero com isso defender as usinas nucleares, especialmente em um momento no qual milhares morrerão pelos efeitos do vazamento de Fukushyma. Mesmo raros, os acidentes acontecem e quando acontecem são devastadores. Devemos aprender a eliminar riscos como esse, pois melhor seria se eles não existissem. O fato de outros tipos de energia serem mais caras não poderiam nos impedir de tentar novos investimentos. A energia eólica e solar são alternativas que precisam ser encaradas com seriedade pelos governos. Ao contrário da energia nuclear, elas compensam o alto investimento sem riscos para a humanidade. Está na hora de chegarmos a um novo patamar de desenvolvimento, onde a vida seja respeitada sob todos os aspectos. Vale o click abaixo para ver as boas ideias que circulam por aí visando um mundo efetivamente sustentável.

Pontes como fontes de energia na Itália

 

sábado, 12 de março de 2011

Em caso de emergência, salve-se!

Não é novidade que o sistema público de saúde é bárbaro e cruel. Sofrer dias em um corredor de hospital sem atendimento adequado é desumano e levanta a dúvida de como as pessoas comuns suportam tal descaso das autoridades sem protestar. Como aguentam? Um mistério que só tem explicação na ignorância e na opressão, ou mesmo no próprio cansaço de quem se encontra fragilizado diante da arrogância do poder.
Agora a moda é distribuir equipamentos, o que é um teste de capacidade para os gestores públicos e de paciência para a população. Veja o caso das SAMUs, unidades móveis para atendimento de urgência, que são espalhadas aos quatro ventos. Infelizmente nem todos os gestores têm a mesma competência ou interesse em agilizar seu funcionamento e muitos veículos acabam nas garagens sem uso por ausência de profissionais habilitados para executar o serviço. É a velha história de se colocar o carro diante dos bois. Investe-se em equipamentos, mas nunca na mão-de-obra. Não funciona, é botar dinheiro fora deixando o patrimônio deteriorar. A articulação entre União, Estados e Municípios, nesse caso, precisa ser ágil pois estamos falando de vidas, que continuam aliás sendo perdidas por falta desse tipo de atendimento.
Similar é o caso das obras públicas abandonadas por carência de organização e planejamento de suas finalidades. Hoje é possível a obtenção de recursos federais para todo o tipo de empreendimento, desde que a obra tenha a destinação descrita no projeto. Mas obra pronta sem que o município articule seu aproveitamento é desperdício de dinheiro público. Erguer paredes para o nada é um crime, muito triste para um país onde ainda existe tanta pobreza. Pois é, por incrível que pareça os elefantes brancos, tão comuns no Brasil na décado de 70 do século passado, continuam a exibir o seu marfim em muitas de nossas cidades. Não é preciso muito esforço para deduzir quem mais perde com isso.

terça-feira, 8 de março de 2011

Da tribo do descanso

O modo como a gente encara o carnaval, salvo raras exceções, muda de acordo com a idade. Até os 30 a balada é intensa, com direito a fantasia, bloco, viagens e muita cerveja. O corpo aguenta. Depois dos 40 anos, a ânsia pelos dias de folia é por conta do feriado. São quatro dias para você dormir o que você não dormiu no restante do mês, tentando beber uma cerveja nos intervalos do sono. Bebeu no almoço, a siesta é grarantida. De noite pode-se beber mais um pouco para acompanhar o primeiro desfile das escolas de samba do Rio pela TV, claro. Mas, como disse, é só o primeiro desfile. O resto a gente sonha na cama, que é muito melhor que qualquer atropelo ao vivo e a cores de uma batucada.
Exageros à parte, acho o carnaval uma ótima oportunidade de sair do sério. Há quem se renove pulando atrás de um trio elétrico.  E há os que emendam o descanso. Pertenço atualmente à segunda tribo, e espero que me contem das festas depois. Para me seduzir hoje em dia, só um camarote no Rio - por uma noite, óbvio, porque ninguém é de ferro.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O relógio do tempo e o INSS

A minha avó faleceu na semana que passou e eu ia falar das tantas coisas que encontramos em seu armário que ela nunca deixava ninguém mexer, como esse cinzeiro austríaco com abafador da década de 70, nada valioso mas curioso. Infelizmente o giro na roda do tempo me fez dar de cara novamente com a nossa dura e imoral realidade. E como eu sou de revoltar-me com os absurdos da vida e todos os seus aproveitadores de plantão me vi impelida a compartilhar com vocês a ganância do Estado Brasileiro contra os fracos. Parece fácil distribuir bolsa-família em troca de votos, mas corrigir injustiças não é com o governo. Explico: a minha avó faleceu no dia 21 de fevereiro e para nosso espanto o INSS, da qual ela era pensionista, nos informa que não vai liberar o auxílio referente a esses vinte dias em que ela esteve efetivamente viva!, só sob determinação judicial. Queridos, não aguento, não é possível! Quer dizer que o cidadão passa a vida contribuindo para essa maravilha da "in"seguridade social e no final, quando mais precisa, se vê obrigado a acionar a Justiça para ter o que deveria ser seu de direito. É público e notório que pensões e aposentadorias vão se desvalorizando com o tempo, pois os reajustes nunca garantem o valor real do salário com o qual o trabalhador se aposentou. E a gente aguenta, o povo se vira. Já seria um reconhecimento justo desse descaso histórico que o último salário da vida desse cidadão lhe fosse entregue integralmente independente do dia em que faleceu, pois caso o governo não saiba morrer custa caro. Mas nem isso: o INSS prefere referendar essa injustiça com louros - passa a mão até nos vinténs que o segurado tem direito, um crime contra o qual todos nós devemos nos indignar e cobrar uma mudança. Enquanto isso, além de não ficarem doentes, lembro a todos: não morram antes do final do mês!  

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sinta-se incomodado

Na primavera de 2003, três jovens americanos viajaram a África na busca de uma história. O que encontraram foi uma tragédia - uma história onde as crianças são armas e vítimas. O filme "Invisible Children:rough cut" (Crianças Invisíveis), que já inspirou filmes de mesmo teor em todo o mundo, expõe os efeitos de uma guerra interminável que afeta as crianças da Uganda do norte. Estas crianças vivem no medo de serem raptadas por soldados rebeldes. Aquelas que não conseguem escapar são forçadas a lutar como parte de um exército violento. À noite elas saem de casa e escondem-se em lugares sem quaisquer condições de higine com o único intuito de sobreviver. Lá choram pelos amigos desaparecidos e sonham em ter uma vida melhor. Este documentário foi feito por estudantes e tem um fomato pungente e original.
Crianças invisíveis existem por toda a parte, vítimas da violência, da fome, da omissão e do esquecimento. É preciso lutar para que elas recebam a dignidade e o respeito a que tem direito. Ouça o que elas tem a dizer:

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Esse crime não compensa

Itaipu/MEC
Eu sou contra a contrução de novas usinas hidrelétricas. Acredito que o tempo delas já passou. Em nossos dias, com a tecnologia existente e a comprovada eficácia das energias alternativas, mais sustentáveis ambientalmente, é praticamente criminosa a edificação desses empreendimentos que ferem de morte a vida no planeta.
O impacto ambiental dessas estruturas não compensa nenhum tipo de energia nelas produzida. Sabe-se que as terras cultiváveis alagadas e a devastação de ecossistemas inteiros são estragos incomensuráveis. Não há cifras para isso. Mas no Brasil, infelizmente, os únicos números que interessam são os dos lucros das empreiteiras, que continuam ditando as regras do jogo. E a pressão é tanta que cai o chefe do Ibama, cai até a ministra do meio ambiente.  Foi o que aconteceu na história da usina de Belo Monte, no Pará, que vai engolir parte de um dos ecossistemas mais ricos do mundo - os entornos do rio Xingú, coração da Amazônia.
Enquanto isso, nada de se debater seriamente a matriz energética brasileira. Nada de investir em outros tipos de energia. Os europeus até hoje não sabem como um país como o nosso dispensa olimpicamente a energia do sol que o banha 365 dias do ano com toda sua força. O empresário indiano que quer construir um parque eólico no Rio Grande do Sul também não entende nada. Ao desembarcar essa semana em Tapes e sentir o vento constante que sopra por ali, ele lamentou a nossa falta de ousadia em investir nesse tipo de energia. Disse que estávamos sentados sobre minas de ouro e platina e comprendeu o motivo de termos tido 13 apagões em 11 anos.
É isso, estamos sentados como tolos assistindo à destruição de nossas matas, rios, animais, plantações, resquícios arqueológicos, clima, gentes. Tudo porque o bolso sempre fala muito mais alto que a inteligência. A pergunta é: até quando o planeta vai suportar?
Para entender mais como uma usina pode impactar o meio ambiente, assista ao video! 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Hora de posicionar-se

Hoje estive envolvida em algumas discussões pedagógicas e refleti sobre o papel da escola na educação de valores. Em um mundo de velozes transformações, frequentemente pais e educadores sentem-se perdidos diante daquilo que é considerado certo ou errado dada à complexidade da vida moderna. Tendo em vista que educar significa não apenas transmitir e facilitar o conhecimento, mas orientar sobre valores, é muito importante que tenhamos esse discernimento. Diante de crianças e jovens, precisamos entrar nesse turbilhão de informações que a internet e outras formas de comunicação nos possibilitam e nos posicionar. Sinto que nesse caminho o medo e a insegurança não têm vez. Não dá para ficar em cima do muro. Crianças e jovens sabem frequentemente mais do que nós em muitos aspectos, mas anseiam por desenvolver a capacidade de discernir o que é bom ou ruim, certo ou errado. A crítica que permeia a sociedade é que os jovens não cultivam mais valores, seja humanos ou morais. Não é à toa. Se nós mesmos estamos perdidos sobre isso, como podemos esperar que eles não estejam?
É hora de posicionamento. Hora de escolher, sobre cada aspecto da realidade, cada atitude que nos é mostrada, aquilo que é melhor e bom. É preciso ser um pouco categórico e deixar claro para os nossos pimpolhos como vemos os acontecimentos que nos cercam, o que há neles que nos incomoda, extrair o que é positivo ou negativo e abraçar-se ao pêndulo da balança, indicando o que achamos correto e explicando por que motivo. Eles precisam disso. Da nossa experiência, opinião, segurança, firmeza e coragem. Somos exemplos, modelos, referências. Impossível pais e educadores abrirem mão desse papel. Se isso acontecer, uma crise de valores de proporções gigantescas nos engolirá. Mas essa é uma sombra que apenas assume contornos ainda não bem definidos. Acredito na inteligência humana. São tempos difíceis, mas não intransponíveis.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Engolindo a própria cauda

O politicamente correto virou uma epifania danosa à nossa cultura. Este ano iniciou com a polêmica em torno dos livros didáticos das escolas estaduais. Parece que um deles continha um texto do Monteiro Lobato que tratava os negros de uma forma pouco apreciável para os padrões de hoje. Em suma, era racista. E o mundo veio abaixo.
Inadmissível que professores formados, com o poder de educar as nossas crianças, não saibam situar uma obra literária clássica, como é reconhecidamente a de Monteiro Lobato, dentro de um contexto sócio-cultural do Brasil lá da década de 40 do século 20. Um aviso aos queridos docentes, que certamente nunca leram as histórias do Sítio do Picapau Amarelo, caso contrário não se assombrariam tanto: a Tia Nastácia é sim chamada de negra velha toda hora pela Emília, e Tio Barnabé de Preto Velho, linguagem popular do Brasil para os afrodescendentes desde que existia a escravidão. Naquela época ninguém considerava isso uma ofensa, aliás nem hoje deveria ser porque a raça negra deve ter orgulho de assim ser denominada e os velhos são velhos sim, por que negar as rugas? O que distingue o aspecto preconceituoso no uso do vocabulário é o modo como nos dirigimos à alguém. Ou será que já perdemos também a capacidade de distinguir um xingamento ou uma ironia de uma simples nomenclatura ?
Ainda bem que aos poucos tudo isso parece estar virando chacota na boca do povo. Benza Deus, porque implantarmos uma caça às bruxas a essa altura do campeonato com tanto assunto importante neste mundo seria apartar de vez o Tico do Teco. Opa, ou quem sabe deveria ter dito o Filipito do Filipeto? Sabe lá se os esquilinhos da Walt Disney não viraram também leitura pornográfica para nossos filhos...Recebi recentemente um e-mail – desses que circulam livremente pela internet – que merecia um oscar pela indignação bem humorada com que coloca às claras o absurdo paranoico do tal politicamente correto, que convenhamos, está engolindo a própria cauda. Estava assinado por Roberto Rabat Chame. Compartilho com vocês os melhores trechos dessa obra-prima:

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo – o homem – e a rosa – a mulher – estimula a violência entre os casais. Na nova letra “o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada”.
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro? É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar. Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca.
Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos, e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.(...)
Daqui a pouco só chamaremos o anão – o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil – de deficiente vertical. O crioulo – vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) – só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo – o famoso branco azedo ou Omo total – é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia – aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno – é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo – outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão – é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais… Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.(...) Outra: A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a “melhor idade”. Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio "Jardim da Paz".

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alta pressão na missão de informar

Jornalismo é um jogo duro.  O comprometimento social agregado ao ato de informar exige do profissional altas doses de perseverança e coragem. O desgaste é enorme. É só ver  o que acontece no Egito, hoje terra sem lei. Jornalistas correm risco de morte para tentar contar suas histórias, e mesmo em meio a uma série infinita de agressões prosseguem em seu ofício como se fosse uma religião.
Mas é preciso lembrar de outras tantas batalhas diárias que os jornalistas enfrentam e que o atingem de forma não menos dolorosa. A alta pressão de segmentos políticos e econômicos - arraigados a seus interesses -  sobre o trabalho da imprensa existe sim e de uma forma ostensiva, o que é pouco comentado pela própria mídia, por motivos óbvios, que é o de manter esses anunciantes. A intenção de grande parte dos a pedidos e direitos de resposta encaminhado às redações tentam não apenas corrigir ou alertar para o que consideram descaso com a informação, mas essencialmente intimidar os veículos de comunicação e, claro, o jornalista.
Tais atitudes só demonstram o autoritarismo de quem não consegue dialogar.  Poucos tem sabedoria  suficiente para estabelecer relações amistosas com a imprensa, uma pena. Para garantir a informação idônea, existem leis. Intimidar com ofensas pessoais e outras colocações que não contribuem com o teor do assunto em questão só desgastam o processo da comunicação gerando indisposição. 
O que é desastroso, porém, é que esse método sistemático de agressão estimula a autocensura nas mídias frágeis , e a censura, em qualquer situação, é sempre um atentado ao direito à informação da população.  Por isso é que, para manter seu compromisso com a sociedade, o jornalista sofre, mas continuará sempre engajado na missão de informar.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Devagar com o angú

Foi com certo alívio que li o artigo do professor de matemática Daniel Lavouras, publicada na quarta-feira em ZH. Até então acreditava que nadava sozinha contra a maré. Fiz o Enem em 2009 e tive a mesma impressão sobre o Exame que vem se tornando um dos principais modos de ingresso em muitas universidades. É injusto e precisa ser repensado.
O exame não contempla a grade do atual Ensino Médio, o que faz estudantes com ótimas notas no boletim irem mal nesta prova decisiva. Os pais deles com certeza se sairiam muito melhor por sua amadurecida capacidade de reflexão acerca da realidade, ponto insistente do exame. Então destaco este como um primeiro aspecto a ser avaliado pelo governo: é justo exigir dos estudantes tal desempenho antes de se repensar o currículo do Ensino Médio? O governo investe no acesso à universidade sem melhorar a qualidade da educação de base, que hoje é ruim. Os estudantes estão sofrendo, sem dúvida, para dar conta de um modelo de prova para o qual não estão preparados dentro do sistema de ensino vigente.
Outra questão, também levantada pelo Daniel, é o peso do Enem em relação aos cursos pretendidos. Ele passou em Medicina acertando mais questões de matemática e quase nada de biologia. Ao contrário, mas não menos intrigante, foi eu não ter conquistado uma vaga em Letras ao ter praticamente gabaritado as provas de linguagens e literatura.Isso realmente é dissonante com o que se espera depois na universidade - pessoas com habilidades para exercer as profissões que gostam.
Acredito que a interpretação de problemas e a interligação dos conhecimentos associados a importantes assuntos da realidade é mérito indiscutível do Enem, mas o exame não pode ser a única forma de avaliação para o ingresso em um curso superior, pelo menos não nos moldes atuais. Por que as notas do Ensino Médio, por exemplo, não podem ser consideradas pelas universidades, estimulando os jovens a serem bons estudantes durante todo o ano? Dar tanto peso a uma prova só e que já deu tantos problemas técnicos por conta de suas próprias dimensões é no mínimo uma inconsequência. Estamos indo com muita sede ao pote.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Ruy e a chaga missioneira

Dizem que santo de casa não faz milagre, mas o caso do Ruy Nedel, médico e escritor cerro-larguense, é singular. Ele até faz milagres, mas seus fiéis estão longe. Dedicado à causa missioneira, ele tem feito sessões de autógrafos em capitais brasileiras, mas por aqui sua obra permanece pouco reconhecida.
O fato é especialmente triste porque o assunto que transborda das páginas do autor diz muito sobre nossa identidade. Os livros do Ruy são sempre um grito contra a violência e posterior discriminação que os povos indígenas missioneiros sofreram graças à ocupação espanhola e portuguesa a partir do século XVII. Infelizmente, a poesia do Ruy é restrita por falta de apoio público, de professores e de escolas, canais que deveriam se abrir para a cultura, principalmente a local. Assim é que a melhor obra de sua vasta produção foi lançada no ano passado sem que a terrinha tomasse conhecimento. O Doutor e a Cabocla contrasta dois mundos - o do civilizador e o do civilizado - com aquela dose de sensualidade característica do autor. Um típico médico do interior aceita a entrega de uma jovem caboclinha pela própria família, como forma de aceitação de sua condição social submissa. Anos mais tarde a história se repete com a filha originada da relação dos dois, indicando que a situação se perpetua de geração a geração.
Os povos missioneiros ficaram marcados por um genocídio, pela intolerância dos colonizadores a seu modo de vida. Nada no mundo parece ser capaz de mudar isso. Mas quem lê o Ruy dá-se conta do próprio descaso com esse povo que hoje anda por aí meio sem destino ou identidade. Só por isso o Ruy merecia uma estátua porque ninguém mais parece importar-se com isso com tanta amorosidade.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Ser diferente é normal!


Em São Luiz Gonzaga o cineasta Alex Duarte está concluindo as gravações de um novo projeto que toca em um tema sempre sensível que é a questão do preconceito. Em Cromossomo 21, o amor entre uma portadora de Síndrome de Down e um jovem normal provoca uma reflexão sobre o modo como encaramos a inserção dessas pessoas na sociedade. A discussão desse assunto não é novidade, visto já ter sido abordado na telinha em mais de uma oportunidade. Porém, ver em cena o desempenho da atriz Adriele Lopes Pelentir como protagonista principal faz pensar no incrível potencial dessas pessoas que são tantas vezes ignoradas pela ausência de oportunidades. No mais, é sempre bom nos depararmos de vez em quando com nossos próprios medos e tensões diante daquilo que conhecemos tão pouco. O filme do Alex, que tem como parceiros o pessoal da ONG Down Unidos pelo Amanhã, promete ajudar a nos livrarmos dessa estranheza, nos aproximando de uma parte do nosso próprio mundo que insistimos em não ver.
Quer saber mais sobre esse projeto bacana? Está tudinho relatado em um blog criado especialmente para esse filme já citado na revista Caras, é só clicar no link a seguir para acompanhar tudo o que rola nos bastidores das filmagens. Beleza pura! http://cromossomo21.com.br/

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Transparência no ar

Desde o final do ano passado, o Tribunal de Contas do RS está de endereço novo na internet. O portal tem um visual mais atrativo, que facilita as consultas para o cidadão comum. Agora, por exemplo, não é preciso mais solicitar o código de acesso do município que se deseja consultar. Já na capa do site - sob o título Controle Social - um mapa com um mecanismo de busca facilita esse processo, bastando digitar o nome do município e escolher qual ação se deseja fazer: gestão fiscal, receitas ou despesas do orçamento.
Outra evolução é que os dados estão bem mais detalhados. Além de ficar sabendo quem recebeu dinheiro público e as quantias envolvidas, o cidadão pode verificar o destino dos recursos - em quais materiais ou serviços foram aplicados. O site disponibiliza ainda notícias sobre os julgamentos do TCE referentes às contas públicas, o que é um bom parâmetro para se saber quem é ou não um bom gestor. Pena que a decisão final sempre recai para as Câmaras de Vereadores, o que a torna um ato político. Nesse contexto a fiscalização feito pelo cidadão cresce em importância, pois só com informação podemos acertar na hora do voto, única arma segura contra a improbidade administrativa e a impunidade. A transparência é um dever do Estado e dos governantes e um direito do cidadão. O novo portal do TCE é um canal que estimula o exercício desses papéis, vale a pena acompanhar. Clica aí!http://www1.tce.rs.gov.br/portal/page/portal/tcers/

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ares do passado

Subi à Serra Gaúcha no findi e como sempre acontece me apaixonei por aquelas coisas antiguinhas que lembram a vida de outrora. No Castelinho em Canela vi esta charmosa geladeira de madeira, dos primórdios da refrigeração.
Para conservar os alimentos, os imigrantes do início do século compravam grandes blocos de gelo que eram acomodados em um dos compartimentos da geladeira, toda revestida de cobre. O charme de uma dessas maquininhas hoje custa em torno de R$ 4 mil. Virou objeto de arte e sem dúvida valoriza qualquer ambiente.
Fica a dica: é bom guardarmos alguns objetos que marcam época e estilo de vida. Nunca se sabe o quanto eles podem valer no futuro, tanto em termos financeiros como culturais, já que representam nossa memória.
Não tenho geladeira de madeira, mas o vaso que podem ver em cima dessa da foto é relíquia que também tenho na família, descendente de alemães da Alemanha e da Áustria. Era da minha vó (que hoje tem 98 anos), passou pela minha mãe e hoje decora a casa de minha irmã. Preservadíssimo!