terça-feira, 24 de maio de 2011

A língua esfarrapada

O MEC tenta se defender, mas o que está escrito não pode ser mudado. No polêmico livro didático Por Uma Vida Melhor se lança luz a um perigoso estratagema de inclusão que só deixa quem pouco sabe da língua portuguesa ainda mais distante da ascensão social. O texto diz explicitamente que não existe apenas uma forma correta de falar e escrever. Segundo a autora da obra, tudo é correto. 
Pergunto: temos ou não uma língua padrão que nos une como nação? Essa discussão de que existe diversas variações da mesma língua e todas podem ser consideradas corretas já vem de décadas nas universidades. Quando eu fiz Letras na UFRGS em 1997 imaginei o que seria se tais ideias virassem moda. Não é que pegou? E foram radicais nisso, mas o momento é propício pois casa com a visão política que detém o poder no país. Estão baixando o nível da educação para que todos sejam incluídos - às avessas - que tragédia! A educação precisa ser de tal forma que todos possam aprender a norma culta da língua para ter o melhor desempenho social e profissional possível. Legitimar a ignorância é mais triste que ridicularizá-la ou desconsiderá-la. Quem fala "nós pega" pode aprender a conjugar certo esse verbo, basta ter acesso a uma escola básica. Já o livro do MEC insiste que "nós pega" pode ser considerado correto tanto na fala quanto na escrita. É o fim. Vamos fechar as escolas, pois se tudo pode ser correto para que ensinar alguma coisa? Todos estão certos e que falem e escrevam como quiserem. E cuidado, não reclamem: se o individuo achar que foi vítima de preconceito linguistico, usando as palavras da autora do livro, pode muito bem lhe enquadrar em alguma lei. Pois o que considero preconceituoso é o texto do livro, que transforma o aprendizado da língua em uma luta de classes. Dessa forma, desconfio que incluir para o governo tenha o significado de rebaixar quem está em cima e não alçar quem está na base da pirâmide. Um belo movimento de mobilidade social ilusório que desqualifica ao invés de agregar valor.
O MEC foi mesmo infeliz na forma como abordou o estudo sobre as variantes linguísticas. Elas existem nos regionalismos, no falar popular, mas nunca poderemos concordar que sejam aceitas na escrita como formas corretas de expressão a não ser na literatura, que o faz com consciência buscando dar vida a personagens tipificados e suas realidades. No livro a autora escreve que a língua é um instrumento de poder - certo! - então por que negar esse poder a quem ainda está à margem dele?  Todo mundo sempre irá falar como achar melhor, como aprendeu em seu meio, mas o que essas pessoas tem o direito de saber é escrever e falar dentro das regras consideradas corretas pela norma culta da língua.  Esse aprendizado sim fará os cidadãos brasileiros mais aptos a vencer os desafios da vida e encontrar um caminho digno de subsistência com o domínio amplo dos conhecimentos que julgar necessários.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Um bom professor é tudo?

Iniciou ontem a série de reportagens do Jornal Nacional que visa diagnosticar a realidade das escolas municipais de todo o país e já ficou claro como vivemos mesmo uma contradição nesse setor. A escola visitada em Novo Hamburgo, com Ideb ideal, estava bem equipada, com professores qualificados e bem remunerados e tem pais presentes e parceiros, que apóiam efetivamente a instituição e o trabalho por ela desenvolvido.
Por outro lado, a outra escola avaliada, que tem o índice de desenvolvimento educacional baixo, apresentou características opostas, destaque para alunos com idades diversas na mesma sala de aula. Segundo a professora entrevistada, há dificuldade de alfabetização. Chamou-me a atenção dois itens que colaboram para que esse contraste se evidencie tanto. Por incrível que pareça nada tem a ver com a remuneração do professor, já que nas duas escolas o salário pago era praticamente o mesmo.  O que bem as distinguia efetivamente eram os recursos que o professor dispunha para ensinar e a infraestrura da instituição. Porém ouso dizer que nem esse fator a meu ver é decisivo. Já a qualificação do professor sim tem profundas influência sobre o aprendizado e modo como ele é implementado na sala de aula.  A professora da escola com melhor desempenho educacional tinha pós-graduação, o que certamente lhe dá vantagem nas práticas pedagógicas.
Um bom professor é tudo. De nada adianta altas tecnologias se ele não sabe utilizá-las como instrumentos educacionais. Da mesma forma de nada adianta altos salários se o professor é pouco criativo em sua performance, mantém-se desinformado da evolução do ensino e não é capaz de inovar e aprender constantemente.  É preciso que o conhecimento seja arrebatado com paixão e com paixão levado aos estudantes. É absolutamente necessário que o professor seja o condutor da educação, alguém com coragem e consciência de seu papel no mundo, no qual podemos nos inspirar e espelhar, um ser capaz de ultrapassar um cenário tão limitado com o das nossas atuais salas de aula.     

terça-feira, 10 de maio de 2011

Acabaram-se (de novo!) as ilusões

Eu apostava muito no Barack Obama. E quem não tinha suas ilusões no primeiro negro da história americana a assumir a presidência, com seu sorriso largo, com seu discurso conciliatório, que pregava a parceria entre os povos. Tanto que ganhou o Nobel da Paz, só concedido a figuras que primaram pelo diálogo e pelos acordos na luta pacifista, como Mahatma Gandhi. Obama ganhou o Nobel pela promessa do que viria a fazer pelo mundo e não pelo que fez, tanta era essa expectativa.
Infelizmente o Obama não foi diferente dos demais líderes imperialistas que os EUA já teve. Na luta contra o terrorismo optou por usar as mesmas táticas agressivas de seus rivais, ou seja, igualou-se a eles. Usou a tortura para obter informações e ordenou a eliminação de Bin Laden quando, apesar de seus crimes, deveria ter sido julgado e então condenado, como aconteceu com os carrascos alemães da Segunda Guerra. Em suma, pôs em risco a imagem do Estado democrático como entidade capaz de resolver os problemas dos cidadãos.
Por mais raiva que tenhamos do vil fanatismo dos terroristas, não é a vingança nos mesmos termos empregados pelo Obama que ajudará o mundo a encontrar a paz. Pelo contrário, o que virá será mais violência e as mortes seguintes serão culpa de quem?
Eu não sei se existe uma forma mais eficiente de se lidar com o terrorismo. Só sei que para não perdermos nossa humanidade é bastante sensato que encontremos um caminho mais justo e civilizado - ou o mundo continuará a banhar-se de sangue numa guerra insana onde certamente não haverá vencedores. Nunca houve, aliás, nessa Terra desigual, verdadeiros vencedores entre aqueles que se utilizaram da força para triunfar. Quem usa a violência desistiu da inteligência. Não é o que se espera de um líder. Um líder deve dar um exemplo capaz de nos orgulhar. O Obama jogou seu prêmio nas águas do oceano. Nos deixa de lição apenas a desesperança e o medo de novos ataques. Nada mudou.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Com a palavra, os pássaros!

 Ricardo Busse
Considerei muita coincidência receber dois emails falando sobre pássaros em um mesmo dia e resolvi postar. Na primeira imagem, encaminhada pelo Ricardo Busse, que tem uma das visões mais privilegiadas da cidade, retrata-se a bonita migração das andorinhas que escolheram uma das antenas parabólicas do centro da cidade para um pouso estratégico. As aves nos dizem que a jornada é longa, mas para quem persiste e está habilitado o horizonte é logo ali.
A segunda imagem é a pura ironia da vida, mas a cidadã que me enviou garante que os pássaros também são politizados. Pois aí estão os urubus pleiteando a abertura do quiosque na Br-392, que nem foi ocupado e já precisou de reformas. Mas na verdade a passarada não tá nem aí, o lugar é sossegado para uma reunião de condomínio, ótimo para uma espichada de asa ou para fazer uma boquinha. Quem diz que é mau agouro não sabe o que é maledicência...