sábado, 30 de julho de 2011

Amy, a personagem

Se você é do tipo que não se escandaliza mais com nada, nem precisa ler adiante. Este post é sobre a Amy Winehouse, que morreu vítima das drogas, em uma escalada crescente de degeneração física e emocional. Igual a tantas outras jovens? Pode ser, porém quem tem sensibilidade é bom que reflita. Chamou-me a atenção esta jovem não só por ser dona de uma voz incomparável, mas pelo apreço que recebeu entre os jovens de sua geração, copiadores do seu estilo de vestir e se arrumar.
Será que Amy era mesmo a garota que seguiu os passos de ídolos da juventude de outras épocas, como Janis Joplin e Kurt Cobain, que também deixaram cedo os palcos tragados pelas drogas? Sim, ela também sucumbiu, no entanto há uma diferença bastante acentuada entre esta jovem e toda aquela turma dos anos 70. Amy não parece ter usado drogas para amplificar seu talento, para romper padrões, expor rebeldia ou compor letras mais piradas como foi a tônica da geração hippie. De frágil estrutura emocional, cedo foi turbinada para o sucesso e como apoio teve companheiros que a incentivaram à decadência. Ela teve realmente pouca ou nenhuma escolha. Preferível então compará-la a Michael Jackson, que mesmo muito mais velho, também terminou soterrado pela fama, massacrado pela mídia, sem poder repousar. No final, viu-se dormindo para sempre em uma overdose de anestésicos.
O que eles tinham verdadeiramente em comum, além do talento, é que ao seu lado não havia ninguém para dizer chega! Deveria ser absurdo a nós perceber estarmos em uma sociedade que aplaude a drogadição e que já excedeu o seu limite de perversidade,  sacrificando seus jovens escancaradamente, sem remorsos. Mas não, não é absurdo, tudo existe dentro de uma lógica doida, é muito lindo se chapar e se não lembrar de nada no outro dia a risada vai ser muito mais gostosa. É divertido correr riscos, it's so cool. Talvez já tenhamos vivido demais e estejamos de ressaca de sobrevivência. Quando será que o mundo vai acabar mesmo? Houve quem colocasse garrafas de bebida alcóolica em homenagem à Amy, incrível não?Deveriam ter quebrado garrafas, queimado suas baganas e seringas em uma grande fogueira simbólica. Mas não. A revolta e a tomada de atitude não existe mais em uma sociedade inconsciente de tão entorpecida por valores equivocados.
Todos nós estamos ébrios, de cara cheia de individualismo. Amy morreu e sua morte não significa nada. Ela era uma personagem e cumpriu o papel que todos esperavam. Quem quer saber se existia humanidade nela? Pois digo que deveriam querer saber. Muitas outras Amys ainda estão por aí, talvez não tão talentosas, o que as tornam alvos ainda mais fáceis da nossa indiferença.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Liberalidade perigosa


Lá vai o Brasil novamente para o lado contrário do bom senso. Ao invés de investir em novos presídios e em educação profissional para a massa carcerária, opta por libertar quem comete pequenos crimes ou pior - passa a aplicar penas alternativas que francamente são uma piada.
Você pode roubar, portar arma ilegal, fazer receptação, que mesmo assim farão de tudo para que você fique livre. A incoerência está ficando mesmo temerária. Os cidadãos tem de arcar cada vez mais com o convívio de deliquentes na rua para que o Estado e o Judiciário sintam-se aliviados de suas responsabilidades. Solução tão fácil quanto varrer a sujeira para baixo do tapete. Só que um dia todo esse lixo vai aparecer e talvez seja tarde demais para muitos de nós, cidadãos de bem.
Nosso país nunca investiu verdadeiramente em sistema prisional. Sempre entendeu as prisões como depósito de gente quando deveriam ser locais de recuperação para a volta produtiva e saudável dessas pessoas à sociedade. Quem comete pequenos delitos frequentemente tem um histórico de abandono, miséria ou má influência, pouca educação formal ou muita mas sem exemplo de valores morais. Só que ingressar no mundo da marginalidade é como adendrar o universo das drogas. Você testa e se nada lhe acontece você segue adiante. A ausência de limites cedo impulsiona o indivíduo a praticar atos mais graves assim como a experimentar drogas mais pesadas. Esse é um princípio básico da educação, qualquer bom pai sabe disso.
Mas o governo não. Quer mais é livrar o seu lado, como se fosse escapar impunemente adiante. Só que sinto muito: com a nova e liberal legislação, só quem vai se escapar são os criminosos. A teoria de que coibir os pequenos ilícitos previne os mais graves já foi testada com êxito em muitos países asiáticos. A criminalidade é baixíssima no Japão e nas Coréias, por exemplo, onde se passam anos sem que nenhum furto ou roubo se registre porque lá jogar papel de bala na rua dá uma encrenca braba. E o Brasil faz justamente o oposto. Deixa correr frouxo as infrações leves para ter de punir só quando transformarem-se em graves e cruéis. Ao invés de desafogar o sistema prisional, o governo está é projetando sua superlotação adiante. Que custo para a sociedade, para as vítimas de todos esses crimes hediondos, para os pais que ficam sem seus filhos, para os cidadãos que vem os recursos públicos escoando para os bolsos de corruptos!
Já era demais aguentarmos a tal da lei de progressão de regime, possibilitando a fuga sem fim de conhecidos marginais irrecuperáveis. Agora isso, o prende-e-solta vai virar o solta-de-uma-vez camuflado com o nome de medidas alternativas à prisão provisória: vamos esperar sentados o bandido apresentar-se espontâneamente à Justiça, deixar de ir à casa da mulher para espancá-la, de viajar para onde quiser só porque assim a lei está determinando. Quem vai fiscalizar isso? Por favor, não humilhem nossa inteligência! Somos humildes, não idiotas.